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Entre paredes com mofo e infiltrações e crianças internadas pelos corredores do Hospital Estadual de Santana, uma cena chama a atenção: uma recém-nascida, de apenas 900 gramas, é mantida viva com ajuda de uma incubadora improvisada de recipiente plástico na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal.
A cena é o retrato do que os profissionais do hospital fazem para tentar manter a saúde de prematuros e outras crianças com os recursos que têm disponíveis. O Governo do Estado do Amapá (GEA) afirma que investe em reformas estruturais e que demanda reforço de profissionais.
![Ala de pediatria é a mais preocupante do Hospital Estadual de Santana — Foto: CRM-AP/Divulgação Ala de pediatria é a mais preocupante do Hospital Estadual de Santana — Foto: CRM-AP/Divulgação](https://s2.glbimg.com/FWwgMWUwNB-sZc0s2bnv4Jy7E5Q=/0x0:1150x720/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2019/u/K/LNBmNFRBSXNIFsCZEOvA/whatsapp-image-2019-04-29-at-15okokokokokok.jpg)
Ala de pediatria é a mais preocupante do Hospital Estadual de Santana — Foto: CRM-AP/Divulgação
O flagrante foi feito durante uma vistoria dos conselhos regionais de Medicina (CRM) e de Enfermagem (Coren) do Amapá, na sexta-feira (26). Na fiscalização, as entidades identificaram mais de 80 irregularidades na unidade de saúde que funciona da região central do município que fica a 17 quilômetros de Macapá.
Na UTI neonatal do hospital, cinco bebês precisam de incubadora, mas só uma estava em pleno funcionamento na sexta-feira. Para tentar salvar as crianças, os médicos improvisam para garantir a respiração e temperatura dos bebês.
“O número de leitos é insuficiente. […] Isso é uma gambiarra. É muito frequente profissionais da saúde fazerem isso para a gente poder dar uma chance de vida àquele prematuro. Essas crianças precisam de atenção, precisam manter a temperatura, e sem isso, compromete o tratamento”, relata o presidente do CRM no Amapá, Eduardo Monteiro.
![Mãe cuida de bebê internado; banco de madeira virou leito — Foto: CRM-AP/Divulgação Mãe cuida de bebê internado; banco de madeira virou leito — Foto: CRM-AP/Divulgação](https://s2.glbimg.com/ZlWMS-YBR3EZHedto6-mS8zpz2c=/0x0:1077x719/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2019/H/c/UTnBB7Qgav8Xqo450mHw/whatsapp-image-2019-04-29-at-150912.jpg)
Mãe cuida de bebê internado; banco de madeira virou leito — Foto: CRM-AP/Divulgação
O Hospital Estadual de Santana é uma unidade que possui setores para atendimentos de urgência e emergência (pronto-socorro), laboratório, UTI e semi-intensiva adulto, UTI neonatal, e enfermarias adulto e infantil.
Além da situação do setor que atende as crianças prematuras, a vistoria apontou infiltrações, paredes com mofo, fiações elétricas expostas, folhas de compensado no lugar de janelas, torneiras danificadas, aparelhos quebrados e falta de remédios, equipamentos e de profissionais, entre outros.
Na pediatria, o setor com mais irregularidades, há superlotação com falta de leitos; e dois médicos e uma equipe reduzida de enfermeiros e técnicos que atendem, em média, 250 crianças no período de 24 horas.
“É ruim a situação. Não só pra mim, mas para todas as mães que estão aqui”, comentou a dona de casa Selma Viegas, que acompanhava o filho no hospital.
![Vistoria identificou infiltrações e mofo nas paredes do hospital em várias alas — Foto: CRM-AP/Divulgação Vistoria identificou infiltrações e mofo nas paredes do hospital em várias alas — Foto: CRM-AP/Divulgação](https://s2.glbimg.com/1_ak18gaAcyCwxgBz0aehkvihtw=/0x0:1280x720/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2019/e/0/qj78NITsaqlCjRHHuYsg/whatsapp-image-2019-04-29-at-15okok98.jpg)
Vistoria identificou infiltrações e mofo nas paredes do hospital em várias alas — Foto: CRM-AP/Divulgação
Por falta de leitos na enfermaria, 44 pacientes eram atendidos em cadeiras improvisadas e bancos de madeira pelos corredores na sexta-feira.
“Eu passei a noite com a criança no colo. Quem vai conseguir dormir num pau desses? Tá vendo como está esse banco? Tá horrível o banco, né? E a criança tem que ficar no banco”, relatou a diarista Railane Martins.
Problema dividido com a dona de casa Ariane Ribeiro, que está há dias com o filho de 11 meses internado com pneumonia.
“É muito ruim. É péssimo. Porque tem muita gente, muita criança aqui, muitas bactérias circulando aqui, aí meu filho pode contrair uma outra doença, além da que ele tem”, reclamou.
![Apesar de ter camas, quartos também têm bancos que são usados como leitos — Foto: CRM-AP/Divulgação Apesar de ter camas, quartos também têm bancos que são usados como leitos — Foto: CRM-AP/Divulgação](https://s2.glbimg.com/P1xV6tm3JfK5q5hYJhAQ26s8OfI=/0x0:1280x710/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2019/n/Q/ILUJz5Q0GzfCUg4WPMVw/whatsapp-image-2019-04-29-at-15o.jpg)
Apesar de ter camas, quartos também têm bancos que são usados como leitos — Foto: CRM-AP/Divulgação
Enquanto os corredores estão lotados de crianças, o laboratório da unidade está quase vazio. Com equipamentos em falta, uma funcionária não identificada conta como os materiais descartáveis são reaproveitados.
“Esses aqui são os tubos de hemograma. A gente lava. Despreza o sangue e lava. Esse aqui tudo bem, que vai na estufa. Mas os coletores de urina, esses aqui, só são lavados com água sanitária e sabão porque eles não vão para a estufa porque são plástico. É reaproveitado. Não tem. O que a gente pode fazer?”, detalhou.
![Eduardo Monteiro, presidente do CRM-AP, afirma que Santana deveria ter hospital infantil — Foto: Rita Torrinha/G1 Eduardo Monteiro, presidente do CRM-AP, afirma que Santana deveria ter hospital infantil — Foto: Rita Torrinha/G1](https://s2.glbimg.com/S_S35qNz1kAUDH9S9RfGDrm3d64=/0x0:4128x3096/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2018/R/r/TTlayZTwq0ucPGOi87zA/20181113-193205.jpg)
Eduardo Monteiro, presidente do CRM-AP, afirma que Santana deveria ter hospital infantil — Foto: Rita Torrinha/G1
Os problemas, segundo o CRM, são consequências da falta de estrutura, de equipamentos e de pessoal, o que arrisca a vida dos pacientes que precisam do serviço. Ele cita que o município já deveria ter um hospital infantil.
“Não eram leitos, eram cadeiras, bancos, macas. É uma preocupação grande porque quando se tem um número grande de pacientes a serem internados com número insuficiente de profissionais, a probabilidade de cometer algum equívoco é muito grande, assim como proliferação de doenças”, ressaltou o presidente só CRM.
![Vistoria cita superlotação e alta demanda para hospital — Foto: CRM-AP/Divulgação Vistoria cita superlotação e alta demanda para hospital — Foto: CRM-AP/Divulgação](https://s2.glbimg.com/1RB49ssn0A7EcdiHczbNaVlnYjo=/0x0:1280x960/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2019/c/g/Xk4U4pSaC8JPIsrPBs5Q/whatsapp-image-2019-04-29-at-150101.jpg)
Vistoria cita superlotação e alta demanda para hospital — Foto: CRM-AP/Divulgação
Os conselhos informaram que encaminhariam o relatório com os apontamentos ao governo do Estado na segunda-feira (29). O texto também será enviado ao Ministério Público do Amapá (MP-AP) e ao Ministério Público Federal (MPF) para que tomem medidas judiciais.
Enquanto a situação não melhora, a dona de casa Divina Silva Santos, que divide um banco com duas crianças internadas, lamenta a situação.
“Com essa quantidade de crianças doente é difícil a situação. A gente tem que ficar no corredor. Tem muita gente no corredor de um lado para o outro. Está bem difícil a situação. Criança chegando a todo momento. Não sai. Só chega, chega”, lembrou.
O que diz o governo?
![Hospital Estadual de Santana tem um pronto-socorro — Foto: Jorge Abreu/Arquivo G1 Hospital Estadual de Santana tem um pronto-socorro — Foto: Jorge Abreu/Arquivo G1](https://s2.glbimg.com/HbygGwHSTomXSO-swkzJZcFNiLo=/0x0:4928x3264/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2018/W/n/VMurOZSAepmPk6RxkJvw/dsc-0541.jpg)
Hospital Estadual de Santana tem um pronto-socorro — Foto: Jorge Abreu/Arquivo G1
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) informou, em nota, que até o início da tarde de segunda-feira, ainda não havia recebido o relatório referente à inspeção no Hospital Estadual de Santana.
O documento também afirma que a Sesa, dentro da capacidade financeira orçamentária, tem realizado readequações como a reforma de setores da unidade, reforço de servidores de enfermagem, reabilitação e administrativo, além da aquisição de mobília e equipamentos hospitalares.
A Sesa reforçou ainda que não tem medido esforços para manter a qualidade e celeridade na prestação dos serviços que são indispensáveis para a população.
A pasta reitera, porém, que as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) – de responsabilidade da prefeitura – são os locais responsáveis pelos atendimentos primários de menor complexidade. As demandas da atenção básica representam mais de 60% dos atendimentos do Hospital de Santana, o que compromete a assistência de urgência e emergência, lembrou a Sesa.
Problema crônico
![Encontrar pacientes internados em bancos é crônico e cenário é visto em outros hospitais também — Foto: CRM-AP/Divulgação Encontrar pacientes internados em bancos é crônico e cenário é visto em outros hospitais também — Foto: CRM-AP/Divulgação](https://s2.glbimg.com/pq2AyauI98Re82GyoTXB1BnvPmI=/0x0:1280x828/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2019/U/D/aZHlQnSEGqlt1c3obe8Q/whatsapp-image-2019-04-29-at-15ok.jpg)
Encontrar pacientes internados em bancos é crônico e cenário é visto em outros hospitais também — Foto: CRM-AP/Divulgação
No fim de 2018, o acompanhante de um paciente fez imagens da pediatria com corredor e banheiro sujos, muito papel jogado no chão, e piso com lama. Em setembro de 2018, uma visita da Comissão de Saúde da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) registrou o mesmo cenário de sexta-feira, crianças sendo atendidas nos bancos e corredores da unidade.
As dificuldades enfrentadas pelo Hospital de Santana podem ser vistas em outras unidades de saúde, como o Hospital de Clínicas Dr. Alberto Lima, o maior do estado, que fica em Macapá; o Pronto-Atendimento Infantil (PAI) e o Hospital de Emergência em Macapá também na capital; e em lugares como a Unidade Mista do município de Amapá, mostrado este mês.