Entrevista concedida ao Superesportes/Estado de Minas | Foto: Edésio Ferreira
Nas redes sociais, o torcedor do Atlético brinca e pede o retorno de Alexandre Kalil à presidência do clube. O atual prefeito de Belo Horizonte levou o time a grandes conquistas, como a Copa Libertadores, em 2013, e a Copa do Brasil, em 2014. Mas o ex-dirigente não tem vontade de voltar a comandar o Alvinegro.
Kalil afirmou que não tem mais vigor físico para comandar um clube de futebol. Além disso, ele diz que não é responsável pela crise financeira vivida pelo clube e comentou sobre a situação da Arena MRV, que terá que passar por suas mãos antes da aprovação na Câmara Municipal de Belo Horizonte.
Leia e veja a entrevista com Alexandre Kalil:
Você voltaria a ser presidente do Atlético no futuro?
Vou responder de um jeito diferente. Eu criei e formei três filhos. Eles trabalham, têm família, têm mulheres. Voltar ao Atlético seria como colocar meus filhos hoje no meu colinho para brincar de bola. Isso passou. Não tenho condição e nem idade de ser presidente do Atlético. Não tenho mais 48 anos, quando queria brigar com a mesa. Estou chegando aos 60. O presidente necessita de vigor físico, não intelectual. Eu peguei o Atlético, refiz o clube e entreguei para o sucessor. Não tenho a menor pretensão de mandar no Atlético. Se eu quisesse mandar lá, sentava um filho meu lá e ele ganhava a eleição. A prefeitura não tem coração, só o prefeito. O que Atlético, Cruzeiro e América quiserem aqui, terão. Agora, eu voltar a ser presidente do Atlético, nem se meu pai descer do céu e me pedir. Eu seria um fracasso como presidente, fracasso físico e mental. Mas eu sempre tive às ordens quando os dois últimos presidentes se sentaram aqui para perguntar algo, pegar conhecimento. Quem senta na cadeira para ser mandado por alguém é idiota. Quem é criticado é sempre o presidente. Minha volta ao Atlético seria como trocar fralda do meu filho que é médico. Ele nem aceitaria.
Qual missão é mais fácil: ser presidente do Atlético ou prefeito de BH?
É mais fácil ser prefeito, porque eu não dependo do pé esquerdo do Victor. Tenho orçamento a cumprir, ajudar os outros, trabalhar, melhorar a cidade. Se eu fizer tudo certo, acho que no fim tudo dará certo. No Atlético, foi diferente: fizemos tudo certo e, no fim, o pé esquerdo do Victor teve de me salvar.
A relação do prefeito com o Atlético hoje é a mesma de quando estava lá dentro?
No jogo contra o Grêmio, eu desliguei a televisão, porque fiquei puto. Futebol é espetacular. Quando tem um prefeito babaca falando merda, você desliga a televisão. Mas se esse babaca que fala merda for presidente de Cruzeiro, Atlético e América, você escuta até o fim. Futebol é isso. Quem muda o canal quando fala o dirigente do Atlético? O belo-horizontino tira o canal e pensa: “Que prefeito nojento. É melhor ver desenho animado do que esse bosta falar”. Eu aprendi a apanhar, ganhei coro, fui bombardeado por todos vocês. Na política, eles não sabem. Foi uma das melhores coisas que trouxe do futebol.
O presidente Sérgio Sette Câmara, atualmente, tenta resolver questões financeiras de mandatos anteriores. Você se considera, de alguma forma, um dos responsáveis por essa situação?
Não. Se eu tivesse recebido o dinheiro do Bernard, deixaria o Atlético com R$ 80 milhões em caixa. Tive um problema com o André, quando um empresário prometeu comprar e pulou do barco. Sabe qual jogador da Libertadores que eu comprei? Tardelli e o Leandro Donizete. O Victor eu troquei pelo Werley, metade, mais uma quantia em dinheiro. Leonardo Silva, Réver, Júnior César, Ronaldinho e Jô vieram de graça. O Tardelli queria voltar e eu paguei pouco. Quando saí, limpei 200 títulos, não teve nenhum protestado e não tinha nenhuma ação trabalhista. Teve cinco balanços depois que eu saí. Deixei uma folha e meia atrasada. Mas não comprei jogador. Fui na Fifa para buscar 2,5 milhões de euros do Klebinho, que eu ganhei do Nacional da Ilha da Madeira. Só tinha a meu favor. O Atlético foi entregue saneado, com um mês e meio atrasado. O presidente que entrou não teve que trocar nenhum aval. Em 2013 e 2014, fomos uma máquina de ganhar dinheiro. Equacionei as dívidas do Ricardo Guimarães, não comprei jogador com dólar. Nem considero erro, porque o futebol hoje é assim. Na minha época, o Jô estava sendo mandado embora do Inter. Ele ganhava R$ 400 mil e eu ofereci R$ 200 mil. Eram assim os negócios. É claro que eu liguei para o Cuca e ele autorizou.
De que forma você se envolve nos trâmites da construção do estádio do Atlético?
O projeto do estádio não é meu, nasceu na administração do Daniel Nepomuceno, está sendo tocado. Fui lá como conselheiro e votei, mas não tenho nenhum envolvimento com o estádio. Meu papel é levar o projeto até a Câmara, como o projeto do hospital, do prédios, etc. Se tiver dentro da lei, será feito.
Sua relação com a imprensa está mais tranquila?
Vocês acreditam que eu nunca deixei um inimigo vindo da imprensa? Você nunca viu eu ligando para redator, para um editor, para um dono de jornal para reclamar de jornalista. Eu falava com ele mesmo. “O que você fez é mentira, você faz sacanagem, etc..”. Pode perguntar na Cidade do Galo e perguntar se eu liguei para chefe de jornalista. Falei com ele próprio e proibia de entrar no CT. Quando você respeita o trabalho e tem embate direto, a relação é tranquila. Você vai ficar puto se eu ligar para seu chefe. Já o bate-boca pode ser resolvido no outro dia. O meu estilo não permite ter um inimigo na imprensa. O presidente do Atlético tem o poder de não querer falar com um jornal A ou B. Já o político diz que não quer falar e recebe logo a resposta. “É um favor que você me faz. Ninguém quer ouvir merda mesmo”. Se o presidente de clube fala para um e não fala para outro, é um desastre completo.