Foi ouvido pela Justiça, na tarde desta quarta-feira (9), o homem de 37 anos que é acusado de desviar R$ 600 mil das doações arrecadadas para o tratamento do próprio filho, portador de uma doença degenerativa. Segundo as investigações, o homem teria roubado o dinheiro para ostentar uma vida de luxo, bancando mulheres e virando sócio em uma casa de prostituição em Salvador, na Bahia. O julgamento, realizado no Fórum de Conselheiro Lafaiete, na região Central do Estado, não acontece em júri popular e, de acordo com o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), ainda não há uma previsão para que a sentença seja proferida pelo juiz.
Ainda segundo o tribunal, após o réu ser ouvido, o magistrado abrirá para alegações finais do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e para a defesa do homem. Detalhes sobre o depoimento prestado pelo réu não foram divulgados.
Em outras fases do processo, foram ouvidas seis testemunhas do caso, quatro de acusação e duas de defesa. Além disso, uma testemunha foi ouvida pela Justiça da Bahia para o processo. A reportagem do Hoje em Dia tentou contato com o advogado do réu, Tulio Cesar de Melo, porém, ele não foi encontrado para comentar sobre o caso.
O réu foi indiciado pela Polícia Civil (PC) por quatro crimes: estelionato, apropriação e desvio de valores de pessoa portadora de deficiência, abandono material e falsa comunicação de crime. Se condenado a pena máxima destes crimes, ele poderá pegar mais de 13 anos de prisão em regime fechado.
O caso
Os crimes foram descobertos em maio deste ano, depois que o homem, morador de Conselheiro Lafaiete, saiu de casa e deixou para trás a mulher e o filho. O suspeito, contudo, prosseguiu com as campanhas criadas na web e, de acordo com a polícia, forneceu números de contas pessoais dele.
“Várias doações foram recebidas pelo suspeito nesse período”, destacou a instituição. Além disso, ele também retirou parte da quantia que havia sido arrecadada anteriormente. Outro inquérito, ainda em curso, investiga se o rapaz cometeu, também, os crimes de lavagem de dinheiro e associação criminosa.
A campanha para ajudar o menino ficou nacionalmente conhecida e recebeu o apoio de diversos famosos. A ação, criada para arrecadar R$ 2 milhões, conseguiu coletar mais de R$ 1 milhão em um ano. Após a denúncia do desvio do dinheiro por parte do pai, a mãe da criança disse, em uma rede social, que também foi enganada. Ela ressaltou que lançou a campanha “pela boa-fé e com a finalidade exclusiva de tentar salvar a vida” do filho.
A doença
A AME é uma doença genética que atinge a coluna vertebral. As pessoas que têm a doença vão perdendo o controle e força musculares, ficando incapacitados de se mover, engolir ou mesmo respirar, podendo, inclusive, morrer. Desde junho, o medicamento Spinraza, usado no tratamento das crianças portadoras da AME, é disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde.
O tratamento consiste na administração de seis frascos com 5 ml no primeiro ano e, a partir do segundo ano, passam a ser três frascos. A medida teve como base diversos estudos que apontam a eficácia do medicamento na interrupção da evolução da AME para quadros mais graves e que são prevalentes na maioria dos pacientes.