Num momento em que o estado passa por uma intervenção federal na segurança, traficantes tentaram embarcar no Porto do Rio 1,3 tonelada de cocaína pura. O plano de transportar em contêineres a droga, avaliada pela Polícia Civil em R$ 50 milhões, foi descoberto durante uma vistoria de agentes da Receita Federal que começou na noite de quarta-feira e se estendeu até a tarde de ontem. Para investigadores, com o aumento da fiscalização no Porto de Santos, que concentra a maior parte das ações de quadrilhas no país, o Rio entrou na rota do tráfico internacional de entorpecentes. O carregamento dividido em dois contêineres seguiria no navio MSC Arica para a cidade de Antuérpia, na Bélgica, na próxima terça-feira. Duas empresas de exportação — responsáveis pela carga oficial, que era material de construção — serão investigadas.
Nos últimos dez meses, agentes da Receita Federal e da Polícia Federal, que ontem também estiveram no cais, fizeram quatro grandes apreensões de cocaína no Porto do Rio e em embarcações ancoradas na Baía de Guanabara. Nessas operações, foram descobertas cerca de 2,5 toneladas da droga. Em todo o ano passado, foram encontradas duas toneladas de cocaína no Porto. Ontem, foi apreendida mais da metade da droga encontrada no ano de 2017.
O aumento na escala de apreensões no estado preocupa policiais federais e agentes da Receita desde o final do ano passado. Fontes das duas instituições ouvidas pelo EXTRA acreditam que, com a pressão sobre o Porto de Santos, as quadrilhas de traficantes passaram a buscar outras três cidades para tentar enviar entorpecentes ao exterior: Rio, Vitória e Salvador.
— Houve um salto na quantidade de apreensões de drogas nos portos. Em 2017, foram encontradas 47 toneladas de maconha, cocaína, crack e entorpecentes sintéticos. Isso representa mais que o dobro do total apreendido no ano anterior, quando agentes recolheram 20 toneladas. Estamos percebendo uma mudança nas estratégias das quadrilhas, que passaram a agir em outros portos além do de Santos — explica o superintendente da Receita Federal no Rio, Marcus Vinicius Vidal Pontes.
A ação que culminou na apreensão da última quinta-feira começou na noite anterior. Precisamente às 21h34m do dia 28, chegou ao Porto do Rio o contêiner TCLU2094075, com material de construção, proveniente de uma exportadora de médio porte de Santos. Logo na chegada, os fiscais da Receita Federal suspeitaram da procedência da carga e escanearam o transportador. Foi detectada a presença de material ilícito, e o contêiner foi separado. No dia seguinte, às 9h57m, chegou, da capital paulista, outra carga de material de construção, de número de série MSCU5657761, proveniente de outra empresa de médio porte. O scanner, novamente, acusou a presença da droga.
Às 16h de quinta, após os cães da Receita também detectarem a presença de drogas, os dois contêineres foram abertos. No interior, os agentes encontraram cocaína em embalagens envolvidas em orégano — para tentar encobrir o cheiro da droga — distribuídas em 48 malas. A parte externa dos invólucros plásticos exibia a logomarca de uma grande rede internacional de fast food. Investigadores da PF não sabem se esse é algum símbolo da quadrilha responsável pela droga ou se era outra estratégia para tentar ludibriar as autoridades. Um terceiro contêiner com as mesmas características dos outros dois, que havia chegado ao Porto também na quinta-feira e não estava cheio, também foi aberto. Não havia drogas em seu interior. Os agentes suspeitam que ele seria abastecido com drogas dentro do hangar da Zona Portuária.
Após a apreensão, a Polícia Federal abriu um inquérito para investigar a procedência e os receptores da carga. De acordo com o delegado Carlos Eduardo Thomé, chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF no Rio, a cocaína que passa pelo estado é produzida no Peru, na Colômbia ou na Bolívia e chega aos portos, majoritariamente, por rodovias federais. Um dos objetivos da investigação é concluir se parte da droga também teria como destino o mercado nacional.
— Já sabemos que parte dessa droga tinha como destino o mercado externo. Mas não podemos descartar que, com o maior controle das rodovias federais em direção ao Rio, parte dessa droga ficaria aqui. Agora, a investigação tem como objetivo desbaratar o braço financeiro dessa quadrilha — afirma o delegado.
Os investigadores também suspeitam que a quadrilha responsável pela remessa da carga tenha usado outro artifício: a documentação dos contêineres registrava, como destino final da droga, o porto de Tema, em Gana, na África. No entanto, o navio pararia antes na Bélgica e, somente após transbordo, partiria para o país africano. Os agentes acreditam que, nessa parada, a droga seria retirada dos contêineres.
Procurado, o porta-voz do Comando Militar do Leste (CML), coronel Roberto Itamar, afirmou que a fiscalização portuária não é uma das prioridades da intervenção na segurança do Rio. No entanto, ele acredita que a integração dos setores de inteligência vai aumentar o controle.
— A intervenção está mais voltada para a recuperação das polícias e para a melhoria da segurança pública — disse o coronel.